sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Saga absurda com Italínea

São 11:20h, estou aguardando uns montadores de móveis que deveriam ter chegado às 9 horas e com tanta raiva que resolvi escrever minha saga vivida com a Italínea há exatos nove meses. Uma gestação.


Dia 28 de fevereiro assinei um contrato com a Italínea Tijuca, da Conde de Bonfim 496, que incluía armários de cozinha e de quarto. Combinamos o pagamento com o preço à vista.


Como iniciaria a obra do meu apartamento no mês seguinte, daria tempo suficiente para que os móveis ficassem prontos, mesmo com o prazo de entrega dado pela loja – 45 dias úteis.


Logo na semana seguinte desisti de um dos armários do quarto e fiquei com um crédito.


Em abril decidi o que queria e fiz novo projeto com a loja usando o crédito que ainda possuía. Ficou claro para mim que este observaria novo prazo de entrega a partir daquele momento. Mais do que justo.  


Como minha reforma estava atrasada - a previsão de meados de maio da obra não seria cumprida tão cedo e como o prazo da Italínea era maio e julho, para a primeira e a segunda encomenda, respectivamente, não me preocupei. Em julho avisei que poderiam entregar os dois pedidos – pretendia me mudar no início de agosto.


Não imaginava, mas a primeira encomenda, que considerava pronta, só depois de muitos telefonemas, visitas à loja e ameaça de ir à justiça, me foi entregue na última semana de agosto! Apenas a primeira parte da compra, a que foi feita em fevereiro. 


A mudança aconteceu em 2 de setembro e, desde então, insisto com a Italínea para que me entreguem a segunda parte da compra.


Para minha surpresa, dia 4 de outubro, recebi uma ligação da vendedora. Queria saber se eu preferia que minha encomenda fosse feita no depósito, “o que não garantiria um trabalho bem feito”, ou na fábrica, o que demandaria um pouco mais de tempo – um mês.


A princípio não acreditei e perguntei se tinha que escolher entre o mal feito e o mais atrasado de uma encomenda que havia feito há mais de mais de cinco meses!


Pensei em desistir de tudo, mas passados oito meses do pagamento, o valor da devolução não seria suficiente para eu comprar móveis equivalentes em qualquer outro lugar e talvez não conseguisse o acabamento de cama do mesmo padrão.


Acabei optando por mais atraso, já que ela mesma não garantia a qualidade do trabalho feito pela montadora. Desliguei com a sensação de ser refém de uma situação surreal da qual jamais imaginei passar.


O prazo de um mês chegou, aliás, passou.


Marcaram a entrega para dia 5 e a montagem dia 12. Nem acreditei! Ainda teria que ficar uma semana com material pela casa aguardando finalizarem o trabalho!


Bati pé e consegui que agendassem para o dia seguinte, ontem. Marcaram às 9 horas. Não fui trabalhar e esperei. Às 10 ligam que não seria possível antes das 12 horas. 


Como até 13:40 não havia sinal de montador, liguei e cobrei. Uma hora depois chegou um funcionário só para me calar. Passou uma hora aqui, colou umas peças e se despediu jurando que voltariam, o colega e ele, hoje às 9 horas.


Ontem e hoje não fui trabalhar por conta disso. São 11:30h e nada.


Nunca vivi uma história assim, onde parece que nada contribui para soluções, mas que um monte de incompetências somadas deram nisso.


Sei o quanto já me estressei com o assunto - o que devo evitar pela saúde -, e é o único motivo que fez com que eu não fosse à justiça. Não mereço o preço da aporrinhação e do tempo gasto com a briga. Eu só queria fazer tudo com calma para evitar aborrecimentos e foi só o que consegui comprando nessa loja.


Se eu soubesse o que sei agora...

 

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Passei no exame!!!

Pronto! Já fiz o exame, sobrevivi ao tempo de espera do resultado e cá estou, leve e aliviada com tudo. Graças a Deus não houve nem um milímetro de aumento dos tumores, nem do fígado nem dos pulmões e o Mauro Zukin parecia tão mais animado que eu, que acabou me contagiando.

Ficou super feliz de estarem estáveis que me liberou para fazer planos para o ano que vem – quer dizer, para executá-los, já que os planos já existem... Quero ir a Portugal e à Espanha com a Lucy e ficar um mês na França com a Julia, minha amiga de infância.

O Mauro insiste para eu escrever no blog do COI, porque meu caso não é comum – pelas contas da medicina já era para eu ter morrido há sete anos, mas tenho sido mais teimosa que a morte e não tenho a menor curiosidade de encará-la – e nem pressa. Está muito bom por aqui.

Pedro está vendo um DVD com amigos, na sala. Isso nunca aconteceu no último apartamento. Temos tido uma ótima relação com essa casa.

Agora mesmo acabou o jogo Flamengo - Botafogo e é tanta festa pela rua! Que espetáculo lindo o povo descendo as rampas do Maracanã e caminhando pelas ruas cantando, tudo na maior paz! E olhe que o Flamengo perdeu de 2 x 1!

Tenho andado bem caseira e para falar a verdade não tenho tido muita paciência de conversar, de ir ao cinema, de sair.  Falei tanto da minha mãe que quase não vai à rua que estou ficando igual. Ê boca!

Tenho consciência do quanto preciso me exercitar para aumentar o fôlego, mas e a preguiça de fazer esteira? E para completar o quadro, o cara da obra colocou a tomada da esteira de tal modo que ela só liga se ficar a 20 cm da parede. Imagine só fazer essa chatice de cara para uma parede? Ninguém merece!

Sumi, mas não morri

Nossa! Faz tanto tempo que não venho por aqui! Foram coisas acumuladas que não sei nem por onde começar – mas vou tentar.

Passei os últimos seis meses tocando a obra do apartamento para onde nos mudamos, Pedro e eu, no dia 2 de setembro. Isso porque marquei uma data e a impus ao empreiteiro. O resultado foi que moramos por doze dias nós e eles, os peões que finalizaram o serviço.

Dia 12 decretei o fim dos serviços, apesar de ainda não terem terminado tudo. Além de não aguentar mais, iria viajar para São Paulo no dia seguinte para conhecer a nova casa da minha amiga querida, Angela Santos.

Foi um desastre!

Acho que depois de tantos meses de estresse, cansaço físico e certa fraqueza pela quimioterapia, que continua até hoje, quando mudei de cenário, pifei. Dei tilt. Surtei.

Cheguei tão cansada na casa dela que não aguentei fazer qualquer dos programas maravilhosos que ela havia reservado, como teatro e uma feira de arte alí em Pinheiros.

Na sexta Angela nos levou para um almoço no Rubaiyat Figueira, restaurante que queríamos muito conhecer, Fátima e eu, a comadre responsável pela minha ida, já que havia comprado nosso bilhete há dois meses!

Eu estava enjoadíssima e nem pedimos carne, o carro-chefe da casa.

Dormi a tarde toda e preferi não sair à noite. Angela, Fátima e eu tomamos uma sopa, elas beberam um vinho delicioso, e cama!

Lá pelas 4 horas da manhã fui acordada por uma dor no peito tão grande e que foi aumentando tanto, que chegou a ponto de me causar medo de estar enfartando. Acordei a Angela que saiu do quarto pronta para me levar para um hospital.

Só de não estar sozinha fui me acalmando e percebi que doía muito na inspiração, como se meu esterno fosse rasgado. Ela me deu um saco de água quente para colocar sobre o local, tomei um analgésico e continuei deitada. Acabei dormindo até de manhã e meu enfarto fajuto passou com calor e aspirina!

Passei o fim de semana ainda enjoada e no dia seguinte à minha volta fiz quimioterapia. Isso faz 15 dias e dessa vez não me aprumei fácil. Até ontem me sentia bastante enjoada, fraca, sem a menor vontade de sair, de conversar, da nada!

Hoje me dei conta que isso geralmente acontece quando vai chegando a época de repetir a Tomografia para reavaliar se houve melhora ou não no câncer. E será daqui a dois dias o exame, mas desde que o agendo, dá essa insegurança.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Eu vi o Papa!

Desde que começaram a chegar ao Rio os jovens vindos do mundo inteiro e juntando-se aos nossos, existe na cidade uma alegria que se multiplica, contagia e nos faz sorrir só de vê-los pela televisão ou pelas ruas.

Eles andam em bandos, cantam e dançam em todo lugar, não têm vergonha nem censura. Estão vivendo num estado de pura euforia. Eu já fui assim.

Hoje senti saudades de uma Angela Beatriz que existiu há muito tempo, na época em que participava dos Encontros de jovens do Colégio Santa Úrsula e São Bento e tinha fé, muita fé.

Era um sentimento de comunhão com a humanidade, com as pessoas próximas e as desconhecidas,  com a natureza, com o Universo que parecia ecoar em mim a sua beleza, suas cores e seu ritmo.

Tenho uma lembrança bem nítida de uma vez estar no intervalo do curso Vetor, na rua General Roca, e olhar para o morro do Salgueiro – naquele tempo havia muito mais verde em volta das construções – e sentir com absoluta certeza a existência de Deus. Quem, a não ser Ele, poderia ter criado aquela montanha, aquele céu azul ou aquela divina obra de arte?

E olhe que a tal montanha não era exatamente uma paisagem especial de cartão postal...

O sentimento estava dentro de mim. Meu coração estava aberto para ver a beleza e perceber sutilezas.
Meu pai costumava dizer que a ofensa está mais no ouvido de quem ouve do que na boca de quem fala. São os nossos sentimentos que ditam o sentido do que ouvimos e a qualidade do que vemos. E eu só via beleza.

O Papa está resgatando na população valores preciosos e reprimidos pela sensação de impotência, pela falta de respeito e até deboche com que a população é tratada por seus governantes. E a garotada o está ajudando!

Fui me empolgando nesses últimos dias, mas como detesto aglomeração, nem pensei em ir atrás do Papa. Mas acabei indo!

Lucy me chamou para assistir com ela e o Paulo, seu irmão, a passagem dele a caminho de um Hospital na Usina. Lá fui eu.

Exatamente em frente à casa dela não tem árvores e a visão é completamente livre e próxima, já que ela mora no primeiro andar de um prédio na Conde de Bonfim. Chovia todo o tempo, mas os voluntários e o povo, incluindo nós, estavam a postos e prontos para a passagem da comitiva.

E lá vêm os batedores!

Só eles.

Mais uns minutos e outros batedores! E a comitiva atrás! Primeiro o carro preto e, colado nele, o Idea cinza onde estava o Papa!!!

Estava com a janela aberta, acenando e sorrindo, e posso jurar que era para mim! Minha sensação foi essa, mas aposto que cada um ao longo do trajeto também deve ter se sentido na mira do Pontífice – abençoado e feliz!

Foi tão bonito tê-lo visto de perto – no máximo há uns dez metros – que a gente pulava, gritava e me arrepiei toda de emoção.

Amanhã vou para Tiradentes com amigos, e vou de alma lavada por ter visto o Para Francisco. O corpo foi lavado pela chuva, que não deu trégua na volta para casa.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Viver para lembrar


Sexta-feira passada deveria ter feito minha quimioterapia, mas nem me lembrei de fazer o exame de sangue, dois dias antes, que indica se estou em condições de me submeter ao tratamento. Freud explica...

Desde que cheguei da excursão parecia que havia esquecido, numa boa, meu problema de saúde, mas voltei a mim quando recebi a ligação me cobrando o tal resultado. Confesso que fiquei meio murcha...

Com a viagem e a semana de férias que ganhei de presente ao adiar a químio, caí na vida! Foram semanas maravilhosas! Tive que me virar para recuperar o tempo perdido tanto no Núcleo quanto na obra. E dei conta. Estava tão feliz que nem me passou pela cabeça que ainda estava em recuperação...

Com isso só fui ontem ao COI. Minha agenda ¨ficar-bem x sem-energia¨ foi totalmente modificada, o que me criou alguma ansiedade se estarei ou não com tudo em cima na sexta, quando começo a dar meu curso!

Apesar de cabreira, estou otimista. Como a dose do medicamento diminuiu em 20%, minhas contas dão como certa a proporção menor de me sentir sem forças. Que assim seja. Amém.

Domingo me aconteceu uma coisa interessante. Como havia murchado um pouco desde sexta, acordei, tomei café, li o jornal e voltei para a cama - mau sinal. Escureci o quarto, me encolhi toda coberta e devo ter ficado assim por uma hora, quando me toquei que se não reagisse passaria o dia ali. Dei um pulo, tomei um banho e fui pra vida.       

Pedro, tão logo acordou, notou que havia algo comigo. Perguntou, mas eu não quis falar. Continuou insistindo e dizendo que me conhecia bem e sabia que tinha alguma coisa. Confessei, então, como me sentia e ele me falou do convite da avó para almoçar. Ainda discutimos no caminho – eu estava bem amarga – até fui andando na frente, sozinha. Quando chegamos lá, dentro do elevador ele me abraçou e eu desmontei. Precisava mais de um abraço que de bronca e de insistência em me fazer confessar fraquezas.

Depois do almoço, sempre delicioso, Zilah nos mostrou uma caixa do que ela chama de “literatura miúda” – coisas que os netos escreveram quando crianças, hoje todos adultos. Li uma história que o Pedro fez com uns oito anos e outra da Renata, minha sobrinha, talvez com a mesma idade e todos rimos muuuuuito! Eram engraçadíssimas!

O resultado é que sai do encontro completamente restabelecida! E eu, que costumo terminar os domingos recolhida, já me preparando para as segundas - hábito antigo - ainda convidei a Lucy para um cinema na Barra. Mais conversas, mais risadas e a Cinderela aqui só voltou pra casa depois da meia noite!

A diferença foi tão nítida, tão física e sentida que me fez lembrar, mais uma vez, da vovó Ivete: não rejeite qualquer convite. Mesmo que esteja deprimida, triste, vá! Com certeza voltará mais feliz, dará algumas risadas e terminará o dia muito melhor! Sábias palavras...

Mudando completamente de assunto, resolvi revelar – que coisa mais antiga – minhas fotos da Croácia e em tamanho 15 x 20. Foram mais de 300.

Coloquei todas em ordem cronológicas para poder reconhecer os lugares me guiando pelo roteiro da excursão e, desde então, olho uma por uma todos os dias. E viajo novamente. A sensação é a de reviver o olhar daquela paisagem, de lembrar o exato momento daquela imagem, das conversas, dos sons e minha alma tem voltado muito leve desses passeios que a memória me confere. Eu quero mais.
 

Opatija
 
Caminhos de Opatija a Zadar
 
 
 Zadar
  
 
Piso de vidro e o mar em Zadar e Julia fotografando
 
 
Zadar
 
 
Zadar
 
 
Caminho de Zadar a Trogir
 
 
Ponte de entrada em Trogir, cidade medieval
 
 
 Cais de Trogir
 
 
Trogir
 
 
Ruela em Trogir
 
 
 Pracinha em Trogir
 
 
 Coca-Cola com nomes croatas...


quinta-feira, 27 de junho de 2013

Não se mexe em time que está ganhando


Acabei de chegar do Rio-Sul, onde tive consulta com o Mauro Zukin. Fatima-drinha, a madrinha do Pedro, me acompanhou, já que seria para decidir o que fazer a partir de agora, depois do resultado positivo da tomografia de tórax e de abdômen. O pulmão teve melhora e o fígado não piorou em nada, o que significa um ótimo resultado.
Diante disso o Mauro quis que eu continuasse a quimioterapia. Como amanhã seria a próxima, contando três semanas desde a última, negociei com ele para começar só na semana que vem. Além de ganhar mais um tempo ainda cheia de gás para colocar em dia as coisas da obra e do Núcleo, estarei bem na semana entre os dias 12 e 20 de junho, quando darei meu curso de Pilates sob a ótica das Cadeias Musculares.
Disse ele para Fátima que eu negocio tudo e o enrolo sempre... É verdade que negocio e como ele topa, é o médico ideal para mim! Ele me ouve, leva em consideração o que digo, o que sinto e meus argumentos devem ser bons porque na verdade consigo tudo que quero. Até ir para a Croácia! Se ele fosse diferente, rígido ou autoritário, duvido muito que ainda fosse sua cliente.
 Falei que deve recomendar a todo mundo fazer químio e viagens, uma combinação que é um santo remédio!
Depois da consulta fomos tomar um café e Fátima comentou sobre a sorte que sempre tive. Em geral câncer de pulmão não costuma ter resultados tão bons, mas o meu foi descoberto muito precocemente.
Há oito anos ia fazer um procedimento na tireoide e num exame pré-cirúrgico apareceu uma mancha no pulmão. Na época acompanhei o Pedro em uma consulta com o dr. Luiz Lamy e como havia pego meu resultado umas horas antes, pedi que ele desse uma olhada no meu Rx. Ele olhou e de cara me disse: -“Procure um cirurgião de tórax”.
O susto que tomei foi imenso - ele não falou para buscar um pneumologista, mas um cirurgião!
Do caminho de volta para casa liguei para a Fátima que me indicou o Paulo de Biasi. Além de grande médico, haviam sido amigos de adolescência e Zezinho, seu marido, formou-se com ele.
Foi uma grande escolha! Durante quase um mês fiz vários exames e nenhum foi conclusivo. Havia a dúvida entre tuberculose e câncer. Nunca rezei tanto, mas rezei errado. Torci com muita fé para que FOSSE TUBERCULOSE e não me lembrei de pedir que NÃO FOSSE CÂNCER. Pois tinha os dois!
No dia 23 de fevereiro, véspera do meu aniversário, fio à consulta com minha irmã Denise, Zezinho e Fátima e Biasi definiu que era câncer, um adeno- carcinoma.
Estávamos na clínica São Vicente e fomos para o jardim, perto da cafeteria. Fátima avisou à Carminha, que com Valmir, chegou quase que imediatamente. Lembro-me do meu desespero imaginando o pior, pensando em Pedro e chorando desesperadamente. Estava sentada e me balançava para frente e para trás ininterruptamente, quando Zezinho me comparou a Steve Wonder e sugeriu que mudasse para Ray Charles, cujo balanço era para os lados... Gargalhada geral. Mesmo no pior momento dessa caminhada de oito anos, nunca faltou humor por perto! Que sorte!
Quinze dias depois fiz a cirurgia e retirei o pulmão direito. Em seguida comecei a quimioterapia e os remédios contra a tuberculose. Passava mal todos os dias e emagreci quase quinze quilos – foi horrível, mas por sorte estava acima do peso. Deu para entender o motivo do alto índice de abandono do tratamento da tuberculose...
Fiquei ótima por alguns meses até que resolvi ir ao ortopedista para ver uma dor no quadril direito, velha conhecida há dois anos, depois de uma aula de surf, quando repeti mais de quarenta vezes o movimento de dobrar a perna direita para me apoiar e ficar de pé na prancha. Consegui pegar uma onda e também uma tendinite. Desisti depois dessa primeira aula.
Durante a ressonância de quadril a médica que estava realizando o exame, chegou para mim e disse que eu estava metástase óssea, como se estivesse dizendo que eu estava gripada! Nunca havia visto tamanha falta de tato, de ética, de noção!
Saí perambulando pelo setor médico do Barra-Shopping, onde ficava a clínica, e não sabia o que fazer ou pensar.
Acabei tendo que recomeçar a fazer quimioterapia e tive o prognóstico de, no máximo, um ano de vida. Por sorte comecei a tomar o Tarceva, como já contei, mas a precocidade do diagnóstico, com certeza, ajudou ao tratamento e a mim, a continuar viva.
Tenho tido uma sorte enorme ao descobrir tudo antes de qualquer sintoma e isso me faz ter mais certeza ainda do quanto sou protegida e que não estou só nessa história toda – e isso me faz muito bem.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Cheguei!

Sábado à noite chegamos no fim da tarde de volta à Zagreb e ali terminou a excursão. Julia e eu fomos a uma exposição do Picasso que, depois da Croácia, voltará à França e será a última vez que sairá de Paris. Além de estar num convento antigo e reformado, o que por si já era uma atração, a exposição pegava várias fases e foi o máximo!

Domingo minhas amigas foram para Portugal, onde passarão três dias, e eu voei para Madri. Cheguei às oito da noite ainda com sol e a tempo de dar a última volta pela cidade naqueles ônibus de turismo, além de comer tapas de presunto Ibérico, queijo e pão com tomate e azeite. E uma taça de vinho tinto, que ninguém é de ferro.

Na segunda-feira embarquei de volta para casa num voo diurno, onde o tempo parece não passar, mas por sorte tive como companhia uma mineira de Belo Horizonte, a Maria Marta, de quem, depois de dez horas de conversa, virei amiga de infância!

Com uma diferença de fuso horário de cinco horas, entrei em casa, telefonei para mãe, irmão e irmã e capotei! Para mim já eram duas da manhã e já não me aguentava de pé.

Acordei revigorada para encarar a volta à rotina da minha vida, nem tão rotina assim. Telefonei cedo para a Rita, minha dentista do coração, pedindo socorro urgente, já que no segundo dia fora do Brasil havia quebrado um dente molar na vertical e fiquei apavorada que viesse a doer. Imagine ter que procurar ajuda na Croácia! Já estou de boca nova e ficou ótimo. Ela é uma artista!

Vou dormir. Meus olhos insistem em fechar e estou perdendo para eles. O dia foi curto. São oito horas da noite e para mim já deu, vou dormir.

...

Bom dia! São seis horas e desde quatro e meia da madrugada estou acordada. Resolvi escrever em vez de continuar a rolar na cama.

Ontem estava tão bem disposta, tão animada e revigorada que já quero pensar na próxima viagem, mas vou levar muito em conta o clima da época, pois desta vez errei feio ao fazer a mala.

Quando resolvi ir, doze dias antes do embarque, a temperatura por lá variava de 11 a 18 graus. Comprei blusas de malha de manga comprida que com uma pashmina ou casaco. Uma semana depois a variação era de 15 a 22. Coloquei blusas de manga curta na mala. Pois quando chegamos lá, era a filial do inferno. Chegou a 33 graus e não é um locar arborizado, com sombras e foi um sol na cabeça de rachar! Os oito dias foram de céu completamente limpo e azul.

Como eu, muita gente com roupa inadequada. Em Slit, a segunda maior cidade do país, fomos visitar os subterrâneos do palácio do imperador Diocleciano e logo ao entrar senti um cheiro fortíssimo de mofo que me fez imediatamente sacar a máscara que levei para me proteger ou no avião ou em casos como esse. Depois da terceira sala visitada desisti e saí em busca de ar.

O lugar é muito interessante ainda mais por ter sido construído há séculos.

Aproveitei a fuga e fui em busca de uma bermuda que substituísse minhas calças compridas, que já estavam correndo o risco de serem cortadas. Achei uma saia na Zara – lá também tem Zara – daquelas modernas com alguns rasgos. Foi a solução para o meu calor, mas por sorte só faltavam quatro dias de excursão e os rasgos, que pouco a pouco aumentavam, se tornaram buracos!

Seguem as fotos do subterrâneo mofado e da minha saia furada, enquanto “um urso me atacava...”







quarta-feira, 19 de junho de 2013

Croácia

 A cada dia acho a Croacia mais linda ainda. Estamos no sul, em ... nao sei escrever o nome - uma cidade que tem um forte a beira-mar enorme! 

Viajamos o tempo todo vendo paisagens magnificas. A esquerda, montanhas de pedras e a direita o mar. E a cada pequena distancia uma  cidadela entre eles.

Se nao tivesse ouvido a historia que nossa guia conta, diria que o pais  e muito rico. Nao vimos uma casa feia ou mal tratada - nenhuma! 

As cidades a beira-mar, observando melhor, vimos que sao condominios e nao mansoes, como pensamos a principio. Sempre sao construcoes de dois ou tres andares, mas cada varanda e um apartamento, portanto, sao varios em cada imovel.

Vindo para o sul tivemos que passar pela fronteira da Bosnia- Herzegonina, que tem um terreno de 9km em direcao, cortando a Croacia. Entramos e saimos alguns quilometros depois, mas e chocante. 

Beth, Julia e Irene estao se aprontando para irem a cidade jantar. Sao 21 horas, jantei no hotel com a Julia, que me fey companhia, e vou dormir!

Meus pes ficam com edema ao fim do dia e prefiro descansar para poder aguentar o dia seguinte. Estou administrando muito bem meu corpo, obedecendo aos limites.

Fica para o almoço de amanha o champanhe que quero abrir para comemorar o resultado do meu ultimo exame. E para comemorar muuuuito!!!

Como tenho tido dificuldade em conectar a internet - hoje e a primeira vez que uso o computador do hotel - nao escrevo muito. Na volta conto os detalhes. 

Amanha continuo. 

Viajar é preciso... [2]

São seis horas da manhã e desde as quatro e meia o sol está a postos e o céu azul o acompanhando firme.

Estou aqui não é por coragem,  é só vontade de estar com as amigas de infância e de conhecer um lugar "novo".

A Croácia é o país mais bonito que já vi!

Ontem li uma mensagem da comadre com um recado do Zukin, meu médico. O resultado da tomografia de pulmão, que fiz na vespera de viajar, mostrou melhora! Uhu!

Avisa a ela que o TC esta melhor, pode comemorar
     Dr. Mauro Zukin 
 
     

Vou começar a me aprontar. Excursão é assim, vc não para. Cada dia uma cidade, um hotel diferente, e a gente misturando tudo, tipo: que lugar é esse? Se hoje é quarta- feira, isso deve ser Paris...

Viajar está cada vez mais fácil. Se não quiser se aventurar sozinha, excursão é o máximo! Pagar em 10 vezes, então, é o que há!


Amigas desde 1965!!

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Viajar é preciso...

Ano passado cismei que queria conhecer a Croácia. Botei pilha nas minhas amigas de ginásio do Paulo de Frontin, Maria Julia, Beth Brandão e Angela, Cabral para nós e Zaccarias pelo casamento que já dura 40 anos, mas até hoje mantemos a tradição do Cabral, tão presente durante os quatro anos de intensa convivência, amizade e descobertas nos idos anos 60.


Tanto atazanei que em outubro acabamos comprando um pacote para junho deste ano, mas com uma baixa: Angela não poderia ir. Ficamos todas tristes porque há muito tempo combinávamos de fazer uma viagem juntas, mas não seria dessa vez.

Beth, então, convidou uma amiga, a Irene, e o grupo estava formado.
Já disse que, no meu caso, programar qualquer coisa com antecedência não dá certo. Tudo o que fiz na vida dessa maneira, e por sorte não foram muitas, não saiu como o programado. E não foi diferente dessa vez...
Em janeiro, recomecei a quimioterapia, que havia me dado uma trégua desde setembro, e tive aquele piripaque que acabou me levando ao CTI do Quinta D’Or.

Muito contrariada, fui obrigada a cancelar a viagem que faria em fevereiro com Pedro a Paris e Barcelona, para grande tristeza nossa. Deixei a da Croácia para decidir mais tarde, conforme a evolução do tratamento.

Como em março, além de começar a obra do apartamento e não me sentir nem um pouco recuperada, mas cansada e sem força, resolvi que a melhor opção seria não encarar a maratona da viagem com minhas amigas.

Lógico que foi com a cabeça que decidi, não com o coração, que continuou a acompanhar os preparativos com elas em nossos encontros gastronômicos frequentes. Croácia ficaria para outra vez.
Mal sabia o que estava por vir...

Sábado fui ao aeroporto e no estacionamento um casal lamentou sobre o absurdo do tamanho da fila do único elevador da área, e que na Croácia, de onde acabara de chegar, sua mala apareceu na esteira antes dele!

Foi o suficiente para acender meu fogo!

No carro, de volta pra casa, comentei o quanto gostaria de estar nessa viagem com elas, que vão dia 15. Na mesma hora Pedro me deu a maior força. Por que não ir? –“Mas Pedro, TENHO a obra que está quase acabando e NÃO TENHO dinheiro, que já acabou!”
- “Mãe, eu vou à obra todos os dias para você, compro o que precisar e ainda empresto a grana!”
Foi o bastante para na mesma hora ligar para a Abreu Tour que, apesar de ser domingo, sabia que estaria aberta por ser loja de shopping, confirmar se ainda havia vaga na mesma excursão e combinar de no dia seguinte ir lá fechar o negócio. E fui.

No carro, mentalmente, já havia feito as contas do meu tratamento e da vida em geral, se daria ou não para abandonar tudo por 9 dias. E dava.

Acompanhem comigo: amanhã, teoricamente, será minha última sessão de químio e no sábado terminarei o compromisso do curso de AutoCad. Semana que vem farei a tomografia para verificar se deu certo o tratamento desses 6 últimos meses e também será a semana do “descanso forçado” que vai durar até SÁBADO, quando costumo me levanto cheia de gás – e de malas prontas para embarcar à noite!
Na pior das hipóteses, se o resultado não for maravilhoso e se tiver que continuar a me tratar, estarei de volta a tempo de fazer o exame de sangue anterior às sessões de  quimioterapia e de estar presente no dia certinho do ciclo de 21 dias – tudo se encaixa!!! Nada fora de lugar, nada que atrase a vida ou a briga por ela, e vamos combinar: viajar com amigas é muito melhor para o câncer do que tocar obra e ficar aguardando resultado de exame...
Aliás, já pensei em tudo. Como fico muito apreensiva esperando esses laudos, na próxima consulta com o Mauro Zukin não irei (ele nem sabe disso...), mas já pedi ao Pedro, à minha irmã Denise e à comadre Fátima para irem juntos. Estarei na Croácia e não quero nem pensar no assunto até voltar. Eles que administrem esse diagnóstico! Por mim, não tenho a menor pressa em saber se estarei ou não livre das injeções... Prefiro viajar!

domingo, 19 de maio de 2013

Felicidade – o sentimento que não tem que morrer

Acabo de entrar em casa e vim no taxi com uma sensação de prazer e felicidade tão grandes, que me remeteram a uma época onde eu sentia isso todos os dias! A sensação era a mesma!
Passei o sábado todo na minha segunda aula de AutoCad. Semana passada começou o curso – anotei tudo, penei para acompanhar o professor, mas achei que chegando em casa conseguiria, com calma, fazer todos os desenhos aprendidos. Que nada! 
Terça-feira, depois de um almoço delicioso no Rio-Sul com a Lucy, que me acompanhou à consulta de rotina com o Mauro Zukin, me agarrei ao computador, mas não consegui fazer uma linha, um retângulo nem mesmo um círculo – o be-a-bá do Autocad.
Tentei dois dias seguidos e resolvi pedir um help ao meu professor. Liguei para o curso e ele topou me dar uma aula particular – e veio direto. Passamos duas horas aqui, mas aprendi. Pelo menos consegui reproduzir a primeira lição.
Eu adoro aprender! E como o assunto sai da minha rotina dos últimos 40 anos, a vida na Fisioterapia, parece que há estímulos em áreas diferentes – devo fazer novas sinapses, meu cérebro trabalha diferente e talvez isso traga a sensação maravilhosa de ver além, conhecer o desconhecido, ter que pensar, já não é nada automático.
***
Dormi muito mal essa noite. Como ontem foi dia de quimioterapia e tomo uns remédios que me deixam pilhada, como já contei, à noite não me desligo, fico horas acordada e pensando em coisas que no dia seguinte não terão a menor importância, mas que de madrugada tornam-se um vulto difícil de domar.
Sei que até segunda de manhã ficarei acesa, mas que depois apago por uns dias – antes do final da semana que vem volto a arribar.
Além dessa noite agitada, acordei com uma diarreia daquelas e fiquei até receosa de sair, mas não perderia minha aulinha de jeito algum! Resolvi arriscar. Deu certo, só teve um episódio de corrida ao banheiro, mas deu para administrar e não passar vergonha.
Pensei que não fosse aguentar o dia todo, mas o tempo voou e quando a aula acabou nem queria ir embora – fui porque todo mundo se levantou e não tenho intimidade para pedir para fechar o curso, mas adoraria ser a última a sair e apagar a luz!
No taxi, me vieram essas lembranças de sensações deliciosas. Houve uma época em que fazia atividades “extracurriculares” todos os dias. Tinha terapia num dia, duas aulas de dança em outros, um baile na Estudantina às quintas-feiras, o qual não perdia nem com temporal, tsunami ou dor de barriga. Aos domingos, frequentava dois bailes: à tarde no Clube Internacional, ao lado do aeroporto Santos Dumont, e depois de lanchar, escovar os dentes e renovar o desodorante, ia direto para o Circo Voador. Dançava com a Orquestra Tabajara da primeira à última música, aliás, como todo meu grupo de amigos. Divertíamo-nos muito dançando o domingo inteiro.
Às quartas-feiras à noite, participava de um grupo de formação em psicodrama pedagógico, que foi de vital importância para meu trabalho – entender como lidar melhor com gente, separar o que é nosso do que pertence ao outro, aprender a ler os sinais, compreender o que é dito nos gestos, nas entrelinhas, e nas dinâmicas grupais. Adorava! O curso durou dois anos e meio e quando terminou me inscrevi no seguinte. Como a turma era diferente, as dinâmicas nunca eram iguais. Quem lida com gente deveria participar de um grupo assim, passar pela experiência, que foi das mais ricas que vivi, uma das melhores coisas que fiz para mim, meus clientes e meu trabalho.
As aulas de dança aconteciam na clínica, que naquela época era uma sala confortável na Rua Soriano de Souza, onde fazíamos a aula toda de meias – era proibido pisar de sapatos naquele chão sagrado onde os clientes se deitavam para fazer Antiginástica. Como eram todos clientes que viraram amigos, a aula era animadíssima, a gente ria, dançava e se divertia muito! Depois das aulas dos sábados, íamos direto tomar um chopp bem pertinho, que entrava pela noite e a conversa continuava animada!
Era uma saída da rotina diária, mas a rotina semanal não mudava. Eu me lembro até de falar na terapia que sentia certa culpa por receber dinheiro pelo meu trabalho, que era uma das atividades mais prazerosas do dia, e de me sentir tão feliz todos os dias! Olhando em volta, aquilo não era o normal.
Eu era solteira, independente, não tinha filhos e morava sozinha. A vida era muito leve!
Lógico que vivi coisas maravilhosas em outras épocas, mas essa foi muito marcante e durou bastante, “para noooooossa alegria”!
Olhando para trás vejo que minha vida pode ser dividida em etapas, em capítulos que foram vividos intensamente, me trazendo sempre o sentimento de felicidade. Eu buscava isso, busco ainda. Era muito “infeliz” quando não conseguia realizar esse projeto. Lógico que houve períodos assim, de dor, mas a busca continuava ali. Podia até demorar, ser difícil, mas nunca desistia de ser feliz.
Quando Pedro era pequeno, entre os dois e dez anos, estudou na Escola Lume, no Grajaú, onde fez amigos que se veem até hoje, assim como nós, os pais, que criamos vínculos afetivos que alimentamos nos encontrando (menos do que o desejado), tendo notícias uns dos outros, trocando e-mails, não nos esquecendo.
Um dia conto da nossa amizade, desse amor que conseguimos manter apesar das “crianças” terem crescido, se encontrarem sem nós, mas nos tornamos independentes deles e hoje marcamos nossos encontros sem os filhos – encontro de pais! 
***
Há dois dias me sentei para escrever sobre minha conversa com a Lucy, minha guru-espiritual, meu passaporte para entender o além, mas tive tanta coisa para deixar pronta, preparando-me para meu retiro forçado pós-químio, que não terminei.
Ela me escreveu e disse:
... você está misturando duas coisas: ansiedade e fé. Tenho a impressão de que na medida em que pede alguma coisa e a resposta não é imediata, ou se é, não vem na intensidade que gostaria, ou esperava, você passa a achar que não teve fé suficiente.
Pode ser até que, consciente ou inconscientemente, você  se sinta punida por achar que não tem fé. Mais ou menos assim: "eu não melhorei” ou “a doença reapareceu porque eu não tenho fé". Apague essa ideia, isso é ansiedade, não é falta de fé.
Pelo que temos conversado você é uma pessoa de fé, só não está conseguindo percebê-la como tal, exatamente por estar misturando as coisas.

Fiquei muito aliviada em perceber que ela tinha razão, não TENHO que crer piamente em alguma coisa que nem sei o que é. Tenho que acreditar muito é na minha própria percepção do que pode me fazer bem e assim procurar coisas prazerosas que me farão viver muito ainda!
Na verdade, acredito em alguma coisa além daqui e vou reservar um dia para contar minha trajetória nesse mundo espiritual - minhas buscas, crenças e desilusões, encontros e desencontros. Vou até contar de um ex-noivo que levei para um encontro de jovens do Colégio São Bento e que acabou virando Pai-de-Santo. Mas essa é outra história...

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Almoço surreal

Há dois dias, vivi uma experiência inusitada. Angela S., Carminha, Valmir e eu fomos almoçar no Quinta, em Vargem Grande, onde há muitos anos não íamos, apesar de sempre pretendermos, cada vez que Angela vinha ao Rio.

Foi um almoço surreal! Chegamos às 13:30 e só saímos às 23:30h! Durou 10 horas!

Lá pelas seis da tarde, o Luiz Antônio, dono do local, sentou-se conosco para aqueles papos descompromissados e sempre bem-vindos. Fátima, sua esposa, sentou-se uma meia hora depois; os últimos clientes se foram, a equipe foi dispensada e nós seis ficamos numa conversa até muito tarde, onde houve de tudo!

Sinceramente não sei descrever os detalhes, mas fiquei com a sensação de ter participado de um momento único, especial e, principalmente, inesperado.

Ainda não havia processado tudo, como preciso para escrever aqui, mas hoje recebi mensagens da Angela e do Valmir que repasso para que me ajudem a explicar o acontecido.



Queridos,

Fiz ótima viagem de retorno, dominada pela lembrança de nosso almoço de ontem, no Quinta. Fiz meus cálculos e creio que lá estive pela primeira vez na companhia da Bia e do Luiz, há vinte anos!

De início encontrávamos apenas o Luiz Antônio, sempre atento. Calor e carinho transparecendo em sua fineza, educação, pequenas gentilezas como uma sobremesa ou uma garrafa de vinho que não eram cobradas, ou uma muda de bromélia que levei para Piracaia.

Sempre tínhamos direito a um papo mais pessoal. Acompanhamos a convalescença do pai, o famoso Lulu, que havia sofrido um primeiro enfarto ou AVC, não lembro exatamente; a mudança dele para a região da Ilha Grande; o desaparecimento da estufa de bromélias com o crescimento do negócio.

Fátima apareceu anos depois quando o restaurante parecia estar grande o bastante para demandar uma administração mais pesada. Ao menos foi essa a impressão que tive. Daí foi um prazer encontrar uma mulher igualmente educada, exuberante, com a aura de sua ascendência de beleza e cultura que Cecília Meireles lhe confere – é sua neta.

Ela sempre lembra de algo que falamos ou fizemos. Desta vez, depois de tanto tempo longe, fiquei atônita dela lembrar que mandei uma caixa de lichias do sítio depois deles nos terem oferecido um licor de lichia que eu adorei. Isso faz no mínimo doze anos.

Assim, o encontro tal qual ocorreu ontem me é absolutamente surpreendente.

Depois de vinte anos de contatos intermitentes, de repente um lorde inglês se confessa sensitivo, faz demonstração de forças mentais uriguelianas. A mulher faz mágicas, nos oferecem, mas, sobretudo, bebem eles mesmos, umas três garrafas de vinho branco depois do serviço do restaurante ter se encerrado.

Aceleraram muito o raciocínio, emendaram um assunto no outro, mas ele se preocupou em nos colocar em pauta fazendo a leitura de nossos inconscientes.

Ela fala sobre o encontro caloroso de Carminha e Mayse, tão logo chegamos ao local; ele traz boas notícias sobre a evolução do tratamento da Bia; ela faz mágicas para nos entreter; ele elogia o grande coração que Valmir seguramente tem; ela me agradece mais de uma vez nossa presença naquela noite, ele acende um charuto (que por sinal devia ser de excelente qualidade devido à absoluta ausência de odor forte) me fazendo lembrar a descida de um espírito de pai de santo no corpo dinamarquês daquela criatura!

Não pude deixar de perguntar a ele a que se devia sua nova fase sensitiva da qual ele nunca havia falado. A resposta foi de que agora se sentia mais seguro e centrado em si mesmo, para se colocar. A mim declarou que me via como uma pessoa linda e forte, "uma fortaleza", mas por que eu ainda me sentia tão insegura em relação a mim mesma?

Claro que imaginei que Valmir me diria que essa é uma observação genérica que se aplica a todo mundo em algum momento da vida. Seguramente é fato. Mas reconheço que em alguns momentos da minha vida essa observação não encontraria nenhum eco dentro de mim. Houve momentos em que eu diria que ele estava alto e pronto. Mas nesse momento isso é absolutamente verdadeiro. Já usei varias vezes esse mesmo adjetivo em relação a mim mesma nos últimos cinco anos... Coincidência?

De qualquer forma no meio dessa surpresa e bebedeira toda tive a sensação de acolhimento.

Beijo e obrigada pelo final de semana para o qual todos vocês colaboraram.
Angela


Angela, Bia e Carminha,
Também passamos o dia com a ótima sensação do que passamos ontem. Nem saímos de casa. Acho que estávamos alimentados pela felicidade que desfrutamos ontem. Foi um dia muito especial. Ficava o tempo todo pensando como isso aconteceu, como passamos 10 horas lá. Sei lá, fomos todos tocados por alguma coisa. Aconteceu uma sinergia.
Que venham outras.
Beijos,
Valmir


Nem que quisesse saberia reproduzir com detalhes nossa tarde no Quinta, mas ficaram registros fora de ordem, alguns incompreendidos, mas vou tentar refazer o caminho.

Olhando em retrospectiva acho que o Luiz Antônio e a Fátima foram contando coisas pessoais como introdução ao que viria depois, como as leituras sensitivas de cada um. Eles pareciam estar jogando entre eles, com uma vida juntos na qual as conversas viram um jogo e se completam com a fala do outro para seguir até o rumo desejado.

Eles alternaram mágica com o que a Angela chamou de demonstração sensitiva, onde o Luiz Antônio entortou um garfo sem a menor demonstração de esforço.

Enveredamos por fé e de repente virei o alvo. Ele falou coisas bonitas e me disse para agradecer muito, mas muito. Eu estava curada.

Foi uma emoção muito grande ouvir aquelas palavras, independente de acreditar ou não, e mesmo sabendo que não tem cura, crer que posso ficar anos sem que o câncer evolua é o que preciso, um grande presente!

Fiquei, realmente, muito emocionada e foi geral.

Quando consegui falar contei que aquele momento estava coroando minha semana, onde havia tomado algumas decisões.

Na quarta-feira passada entrei na igreja de Santo Afonso, aqui ao lado, e fiquei pensando, pedindo para ter mais fé do que tenho e tentando me lembrar onde foi que deixei de sentir aquela felicidade que não faz muito tempo se diluiu um pouco.

Foi quando deixei a faculdade de Design de Interiores, época em que sentia uma alegria e um prazer enormes tanto na escola, com pessoas que passaram a ser muito especiais, quanto em casa, projetando, criando e aprendendo.

Isso foi interrompido bruscamente, quando tive que dobrar a carga horária do curso que ministrava fazia seis anos, por uma decisão do CREFITO, o conselho da minha classe. Foi uma época de muito estresse, montando várias apostilas novas com textos, fotos, mil detalhes que fiz questão de incluir na programação enriquecendo o conteúdo, mas foi um período bem doloroso.

Ainda sentada na igreja repassei essa época e decidi na hora retomar esse estudo. Não dá mais para voltar à faculdade - o tempo é outro, os colegas não serão os mesmos, mas posso estudar! Em casa pesquisei e me inscrevi em um curso de AutoCAD, aos sábados. Pelo menos colocarei as idéias no computador e não na prancheta, demorando uma vida em cada uma!

Outras decisões: preciso me encontrar mais com os amigos. Quero montar uma Confraria! Encontros marcados para conversas, discussões sobre filmes, livros – que adoro! Ah! E com refeição incluída em restaurantes a serem descobertos.

Aliás, isso foi idéia roubada do Luiz Antônio, que nos contou sobre a viagem que fez à África do Sul, no carnaval, com sua confraria! Também quero uma para chamar de minha!

Hoje a Lucy R. me levou para o COI, para a injeção da barriga, e conversamos muito sobre o que houve no sábado, eu sem entender bem o que aconteceu, apesar de estar completamente mexida com a história. Ela me disse para não tentar entender, que talvez nem conseguisse. Se me fez bem e me trouxe um bom sentimento, que ficasse com isso. Não preciso entender.

Desse sábado me ficaram muitas emoções, afetos, surpresas e um garfo torto, que será um amuleto na minha corrida em direção à alegria e à vida. 
 

 


Acabo de escrever sobre o almoço surreal e me lembrei que havia feito um relato de outra experiência “espiritual” há três semanas que não consegui postar. Segue o texto escrito e guardado. Fui atrás de alguma coisa e levei um susto.

Fui almoçar com amigos e voltei com a sensação de ter encontrado algo muito importante que não sei o que é, mas do qual precisava muito. Além do garfo torto.


Segue o texto escrito em 17 de abril.


Experiência espiritual – será?

Faz tanto tempo que não escrevo que nem sei por onde começar. Meu computador foi uma das vítimas da atualização catastrófica que a Microsoft realizou semana passada e pensei que ele tivesse morrido de vez. Felizmente a Tânia, minha administradora preferida, o ressuscitou ontem. E com ele, eu voltei.

Pedro, através de uma amiga, foi a um centro que imaginei que fosse espírita, mas depois que o conheci, tenho cá minhas dúvidas.

Ele falava de um homem com grande poder de cura e queria que eu fosse me submeter a um tratamento de quatro semanas. Relutei, mas ele me pediu que fosse por ele, mesmo que não acreditasse.

Sábado passado embicamos para a baixada fluminense e passamos boa parte da tarde no local, que se destacava do entorno com muito verde, muitas árvores no terreno do que acho que é um sítio.

Na hora fiquei muito calma e pensei que já que estava lá seria para levar fé e me entregar. Acho que se acreditarmos que alguma coisa ou pessoa possa nos fazer bem, funciona, vira verdade. Nossas freqüências entram em sintonia e o corpo reage positivamente.

Participei de algumas sessões que não sei dizer do quê, mas por três vezes, em diferentes grupos - que variaram de seis a umas oitenta pessoas – fui colocada no centro, pediram para eu fechar os olhos, alguém “apresentava meu caso” e pedia para que os presentes fizessem alguma coisa que não entendia o que era. E todos em volta começavam a gritar, a chorar e a expressar tanta dor que nem sei como conseguia continuar sem olhar. Concentrei minha atenção na respiração.

A um pedido do guia faziam silêncio ao mesmo tempo e como eu continuava com os olhos fechados, me tocavam o braço dizendo que acabara. O semblante de todos eles era tão tranqüilo que não combinava com o que eu imaginava ter acontecido. O que eu tinha acabado de ouvir não tinha nada a ver com o que via antes ou depois de fechar os olhos.

O homem da cura, o anfitrião, era, indiscutivelmente, o responsável por tudo. Era chamado a toda hora para socorrer um ou outro. Ele era gentil, educado e bastante atencioso, diferente de quando, no início, fazia o que chamou de palestra, onde respondia a perguntas, dava conselhos e orientações de um jeito que achei muito preconceituoso e de uma maneira bastante grosseria.

Não falava de amor, de bons sentimentos – amor é obrigação. O que vai contar na nossa “conta-corrente espiritual” são as coisas negativas, as que nos levam a um umbral cada vez pior. Juro que foi isso que entendi.

À noite não dormi e fiquei vários dias pensando na experiência, recapitulando cada minuto do que havia acontecido.

Quanto mais eu pensava mais angustiada ficava e decidida a não voltar e querendo que Pedro também não voltasse.

Sei do empenho dele em me salvar, em querer que algo interrompa a evolução da doença, mas quero lhe mostrar outros lugares, ligares do bem onde o sentimento reinante é o amor e não o ódio.

Algum lugar ou alguém eu devo encontrar para que me traga essa ajuda espiritual tão aguardada.